Critérios de excelência no ensino de jornalismo em África
Mais de 100 instrutores de jornalismo africanos em 37 países participaram numa série de consultas regionais e partilharam os seus pontos de vista sobre o significado de excelência no jornalismo. Após as consultas, foram identificados 5 critérios-chave com 58 perguntas. Os educadores de jornalismo em África foram então convidados a avaliar até que ponto a sua instituição está a responder a estes critérios específicos de excelência, tendo em conta os seus currículos, o seu divulgação e o desenvolvimento e capacidade internos.
A iniciativa é apoiada pela Google News Initiative e coordenada pelo Centro de Jornalismo Wits e pela Escola de Jornalismo e Estudos dos Media da Universidade de Rhodes (África do Sul).
CRITÉRIO 1: Ensino baseado nos direitos humanos e que incentiva a prática do jornalismo ético.
Há uma noção implícita de que a excelência no ensino do jornalismo fortalece uma mídia que apoia a democracia e os direitos humanos, que inclui a liberdade de expressão e da imprensa, e encoraja um exame crítico das operações da mídia dentro deste quadro geral no contexto africano. Esta perspectiva inclui apresentar aos alunos os princípios das práticas éticas de reportagem e trabalho de interesse público, e estabelece a ligação entre estas práticas e o papel da mídia no apoio à democracia, aos direitos humanos e ao desenvolvimento sustentável.
I. ܰíܱ
Tua escola:
a) Explica o sistema completo de direitos humanos aos alunos (direitos civis e direitos socioeconómicos);
b) Envolve explicitamente os alunos no que o jornalismo significa para a cidadania, a democracia, os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável;
c) Pormenoriza especificamente o direito da liberdade de expressão e acesso à informação, quaisquer limitações a estes direitos que sejam aplicáveis no teu país e como os alunos podem circular na prática pelas restrições para produzir jornalismo informado de interesse público;
d) Apresenta aos alunos os códigos de conduta e práticas da indústria da mídia e os direitos e obrigações que eles acarretam;
e) Ministra um curso sobre ética jornalística, com componentes que incluem noções de justiça, verificação e averiguação de factos e equilíbrio na reportagem de interesse público;
f) Ensina os alunos a relatar de forma justa, sensível e não partidária e não discriminatória durante as eleições e em situações de conflito (que inclui guerras civis e conflitos religiosos e étnicos);
g) Ensina os alunos a relatar com ética e sensibilidade os direitos de mulheres, crianças e grupos marginalizados, como grupos étnicos, pessoas com deficiência e minorias sexuais;
h) Ensina os alunos a reconhecer a distinção entre jornalismo e outras práticas, como relações públicas e publicidade, propaganda, influência social ou indiscrição (fofoca);
i) Explica e incorporar formas alternativas de produzir jornalismo no teu currículo, incluindo exercícios práticos, como jornalismo de direitos humanos, jornalismo da paz, jornalismo construtivo ou jornalismo de soluções;
j) Interroga e detalha as muitas maneiras pelas quais o jornalismo que trabalha no interesse público pode ser prejudicado, que abrange meio de suborno, domínio político das empresas de mídia ou assédio e intimidação por pessoas poderosas e influentes, e discutir maneiras práticas pelas quais os alunos podem atravessar estes desafios como jornalistas actuantes.
II. پܱçã
Tua escola:
a) Demonstra liderança no seu ambiente de mídia, através de fala clara sobre os direitos da mídia ou questões éticas e da convocação de reuniões e conferências para as partes interessadas sobre questões importantes da liberdade da mídia;
b) Comemora as principais datas da liberdade da imprensa, como o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de Maio), Dia Mundial da Rádio (13 de Fevereiro), Dia Internacional para o Acesso Universal à Informação (28 de Setembro) e Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas (2 de Novembro), através da organização de eventos, de declarações públicas ou de lançamentos de publicações relevantes, entre outras actividades;
c) Tem funcionários específicos da equipe a servir como consultores das empresas de mídia, associações de jornalistas, conselho de imprensa ou ONGs dos direitos de mídia;
d) Incentiva os funcionários da equipe a escrever criticamente sobre a prática da mídia na mídia, através de artigos ou artigos de opinião ou outros tipos de mensagens de mídia.
III. Capacidade e desenvolvimento internos
Tua escola:
a) Desenvolveu uma política prática para os funcionários e os alunos fazerem comentários publicamente sobre as questões relacionadas à liberdade de mídia que dá-lhes a liberdade de expressar suas preocupações, mas também preserva um senso de independência e imparcialidade académica;
b) Desenvolveu abordagens que fortalecem a inclusão através da participação de alunas, alunas das minorias étnicas ou religiosas, alunas portadoras de deficiência, alunas LGBTI e/ou outros grupos marginalizados na sala de aula.
CRITÉRIO 2: Ensino que atenda às necessidades do treinamento prático num país e região.
O desenvolvimento de habilidades práticas é um componente crucial do bom ensino do jornalismo na África e em outros lugares. Isto deve incluir competências básicas e avançadas de jornalismo e responder às necessidades crescentes de treinamento de um ambiente de mídia.
I. ܰíܱ
Tua escola:
a) Oferece suporte estruturado para desenvolver as habilidades básicas de redacção e edição dos alunos;
b) Dá instrução de mídia e de informação aos alunos para que eles possam entender o ambiente de mídia em que trabalham;
c) Ensine os alunos a usarem as possibilidades de pesquisa avançada para que verifiquem informações falsas, identifiquem mídias criadas por Inteligência Artificial e para que também verifiquem o conteúdo das suas próprias histórias de modo que possa ser garantida a exactidão;
d) Equipa os alunos com habilidades de produção digital adequadas para que possam trabalhar em redacções multimídia, que inclui as competências para distribuição de conteúdo num ambiente digital;
e) Oferece treinamento aos alunos em segurança digital, conscientização da situação e segurança pessoal;
f) Equipa os alunos com as habilidades práticas necessárias para lidar com as pressões que provavelmente enfrentarão do governo e funcionários de segurança, políticos e outros actores poderosos, bem como fontes de recursos, e como negociar com as multidões em situações voláteis;
g) Tem uma estação de rádio no campus, jornal de estudantes e portal de notícias ou canal(ais) de mídia social onde os alunos possam desenvolver habilidades práticas de jornalismo, que abrange a prática da tomada de decisões éticas;
h) Prepara os alunos com as habilidades necessárias para moverem-se no local de trabalho, incluindo apresentação de histórias, como planejar uma agenda de trabalho com eficiência, como negociar contratos com empregadores, lidar com intimidação (bullying) e assédio no local de trabalho, planejamento e orçamento financeiro pessoal;
i) Dá aos alunos conhecimentos práticos para impor os seus direitos trabalhistas (por exemplo, direito de sindicalização, direito de protesto, etc.);
j) Oferece treinamento em liderança de redacção, especificamente para estudantes do sexo feminino;
k) Introduz os alunos ao impacto psicológico que o trabalho pode ter sobre eles e os recursos e redes disponíveis para apoiá-los;
l) Pratica com os alunos as estratégias para negociar com editores e chefes de mídia que podem não estar cientes ou não importar-se com as implicações éticas ou de direitos de uma notícia.
II. پܱçã
Tua escola:
a) Tem parcerias com universidades de outros países ou regiões para ter palestrantes convidados e programas de intercâmbio de estudantes para expor os alunos a novos ambientes de aprendizagem e habilidades;
b) Tem fortes relações de trabalho com ONGs, empresas de mídia ou outras instituições onde os alunos possam receber a experiência prática de que precisam, inclusive por meio de estágios;
c) Tem fortes relações de trabalho com jornalistas do sexo feminino que possam servir como mentoras e modelos para as alunas.
III. Capacidade e desenvolvimento internos
Tua escola:
a) Tem um programa interno de capacitação que ajuda os funcionários a acompanhar as tendências da mídia digital e desenvolver novas habilidades, que abrange metodologias para pesquisar conteúdo de mídia digital;
b) Explorou sistematicamente as vantagens e desvantagens da aprendizagem online e híbrida em relação à entrega do curso e o impacto sobre os alunos.
CRITÉRIO 3: Ensino que está atento às inovações, tendências e novas oportunidades no exercício do jornalismo.
É importante que as escolas de jornalismo explorem activamente novas formas de jornalismo realizadas num país, região ou no mundo. Isto inclui as formas como este jornalismo está a ser produzido e publicado, sua contribuição para a prática jornalística ética e como estas formas de jornalismo podem ser financeiramente sustentáveis.
I. ܰíܱ
Tua escola:
a) Ajuda os alunos a identificar e a explorar novas tendências na prática do jornalismo no seu país e sua região em todos os meios, que contém novos estilos de jornalismo e formas de produção jornalística e novas formas de organizar a produção de notícias;
b) Explora criativamente o potencial de novas inovações tecnológicas com os alunos para gerar novas formas de produção jornalística;
c) Incute a confiança nos alunos para o uso de novas tecnologias que eles podem adoptar quando explorarem inovações tecnológicas actualizadas no futuro;
d) Coordena cursos e seus resultados com os alunos sobre o uso inovador de novas tecnologias para a prática jornalística (ou seja, pode-se aproveitar suas habilidades e experiências no uso das tecnologias);
e) Ensina os princípios de negócios aos alunos para incentivar e estimular o empreendedorismo, que abrange a exploração das várias maneiras pelas quais as empresas de mídia iniciantes podem gerar receita, como arrecadação de fundos de doadores, fundos de crowdsourcing (obtenção terceirizada de conteúdo online) e através de modelos de associação ou uso inovador de paywalls (acesso restrito pago);
f) Ensina os alunos sobre a economia política e os modelos de negócios de empresas que fornecem novas tecnologias, para que eles estejam cientes dos riscos e dos imprevistos quando produzirem jornalismo de interesse público, e ao usarem estas tecnologias (por exemplo, colecta de dados e privacidade, colaboração com os estados no encerramento de serviços).
II. پܱçã
Tua escola:
a) Tem relações de trabalho com escolas de negócios, empresários de mídia e start-ups (negócios inovadores), que permite visitas ao local, estágios e palestras.
III. Capacidade e desenvolvimento internos
Tua escola:
a) Tem mecanismos para apoiar os alunos que desejam iniciar os seus próprios negócios de mídia (por exemplo, isto pode envolver a criação de uma rede online de alunos interessados, onde as ideias podem ser compartilhadas e suporte ser solicitado; intervenções mais estruturadas, como a realização de reuniões regulares ou discussões com palestrantes convidados; ou a criação de um espaço físico ou online onde novas ideias de negócios possam ser tecidas por alunos com o apoio de empresas e outros peritos).
CRITÉRIO 4: Ensino que está atento às realidades variáveis socioeconómicas, políticas e ambientais dos países e regiões africanas.
O excelente ensino do jornalismo presta atenção crucial às realidades variáveis socioeconómicas, políticas e ambientais de um país e região. Ajuda a capacitar os alunos em áreas importantes onde há deficiências temáticas na produção jornalística, para que o jornalismo possa funcionar melhor dentro do interesse público, fortalecer a responsabilidade e a democracia, bem como o desenvolvimento sustentável.
I. ܰíܱ
Tua escola:
a) Ensina os alunos a analisarem criticamente o cenário socioeconómico e político do seu país ou da sua região, bem como eles diferem dos outros países ou regiões e do contexto global;
b) Ajuda os alunos a entenderem criticamente a economia política da mídia e dos serviços de Internet;
c) Oferece cursos temáticos especializados relevantes para o seu contexto (por exemplo, meio ambiente/mudanças climáticas, migração, corrupção, saúde, economia ou política);
d) Ensina os alunos a trabalharem, analisarem e interpretam os dados para que possam relatar com conhecimento sobre as pesquisas emergentes sobre as questões socioeconómicas, políticas e ambientais.
II. Outreach
Tua escola:
a) Tem fortes relações de trabalho com comunidades especializadas para ensinar especializações importantes, como meio ambiente/mudanças climáticas, migração, corrupção, saúde, economia ou política;
b) Tem acesso a organizações ou instrutores com experiência em direitos de mulheres, crianças e grupos marginalizados que possam orientar os alunos sobre como fazer denúncias com responsabilidade e sensibilidade.
III. Capacidade e desenvolvimento internos
Tua escola:
a) Criou espaços (por exemplo, reuniões dedicadas) onde os funcionários podem envolver-se criteriosamente uns com os outros em questões variáveis socioeconómicas, políticas e ambientais, com impacto na prática do jornalismo e no ensino do jornalismo.
CRITÉRIO 5: Ensino que responde às particularidades e nuances da mídia africana e ecologias de comunicação e encoraja o papel único do jornalismo dentro destas ecologias da mídia.
O excelente ensino do jornalismo não concentra-se exclusivamente na mídia tradicional ou convencional, mas considera o ambiente da mídia como um ecossistema com múltiplos actores que geram formas de jornalismo com diferentes perspectivas e que utilizam diferentes plataformas. Tenta-se entender como esta ecologia da mídia emerge num contexto específico e como isto é diferente da maneira como a mídia funciona em outros contextos.
I. ܰíܱ
Tua escola:
a) Apresenta um ambiente de comunicação mais amplo aos alunos como um 'ecossistema' com múltiplas formas de jornalismo que são realizadas por fontes variadas e de maneiras diferentes;
b) Ensina os alunos a avaliarem criticamente o papel único do jornalismo dentro desta ecologia com base nas realidades socioeconómicas e políticas específicas, e a compararem isto com o jornalismo produzido em outras partes do mundo;
c) Oferece cursos de curta duração sobre prática e princípios jornalísticos para jornalistas que trabalham em línguas indígenas;
d) Oferece cursos com fartura de exemplos locais de práticas interessantes e inovadoras de jornalismo e mídia.
II. پܱçã
Tua escola:
a) Procura regularmente envolver os produtores de novas formas de notícias e jornalismo, que inclui influenciadores e YouTubers, ou formas alternativas de jornalismo;
b) Publica pesquisas e caso de estudos sobre formas especiais de jornalismo encontradas na África para uma divulgação pública mais ampla.
III. Capacidade e desenvolvimento internos
Tua escola:
a) Discute e avalia ideias de forma minuciosa como "descolonizar o currículo" e como elas podem ser de interesse ou como podem fortalecer o seu trabalho;
b) Tem acesso ou desenvolve livros didácticos ou currículos relevantes, ricos em exemplos e análises locais com os quais os alunos possam relacionar-se;
c) Integra a necessidade de ensinar e desenvolver a capacidade de jornalismo em línguas indígenas na sua estratégia de ensino de jornalismo;
d) Tem uma agenda de pesquisa que é concentrada nas particularidades dos espaços africanos de mídia e ecologias de comunicação no seu país ou na sua região.