Em 19 de dezembro de 2011, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 11 de outubro como Dia Internacional da Menina, para reconhecer os direitos das meninas e os desafios exclusivos que elas enfrentam por todo o mundo, além de promover seu empoderamento e a garantia de seus direitos humanos. Essa observância destaca tanto a necessidade urgente de agir pelas meninas quanto a esperança inabalável que advém do poder de suas vozes e suas perspectivas para o futuro.
Se as meninas receberem apoio efetivo durante a adolescência, elas adquirem o potencial de mudar o mundo. Isso é bem compreendido pela jornalista chilena Isabel Plant, uma das fundadoras e editora do , um projeto e uma plataforma que busca dar visibilidade às contribuições das mulheres em várias áreas. Recentemente, o projeto se concentrou em convencer as meninas e as mulheres de que não há limites para o que pode ser alcançado por meio da perseverança e da educação.
Em 2016, o Mujeres Bacanas surgiu da ideia de quatro amigas jornalistas – Fernanda Claro, Sofía García-Huidobro, Concepción Quintana e Isabel Plant – de criar uma plataforma que contribuísse com a nova onda de feminismo que começava a se formar no Chile. “Nós achávamos que poderíamos contribuir por meio do que sabemos fazer de melhor: contar histórias. E queríamos contar as histórias que não víamos na mídia, nas notícias sobre educação, mas que nos fascinavam – as histórias de mulheres que tinham feito coisas importantes, corajosas ou inspiradoras”, relembrou Plant.
O grupo começou a compartilhar a biografia de uma mulher excepcional – uma “mulher bacana” – a cada dia: de uma ganhadora do prêmio Nobel, uma atleta e uma adolescente que luta contra a mudança climática, além de uma matemática distinta. Seu objetivo era criar um repositório de modelos para que mulheres, jovens e idosas, pudessem encontrar inspiração para seus próprios projetos e ambições”, diz Plant.
A plataforma já compartilhou mais de duas mil biografias de mulheres e já publicou quatro livros, alguns dedicados ao público jovem. “Nós realmente esperamos que elas façam do nosso lema o delas: “se elas conseguiram, nós também podemos”, enfatiza.
De que maneira podemos promover o empoderamento das meninas e defender o cumprimento de seus direitos humanos?
O mais importante é o acesso à educação. Depois de rever milhares de biografias de mulheres de todo o mundo, um fator comum entre aquelas que conseguiram perseguir suas paixões e superar obstáculos é que a educação é uma chave que abre portas e permite grandes saltos para avançar. A pandemia nos atrasou nesse sentido: são as meninas que perderam a escolaridade, que às vezes não são consideradas como necessitadas de terminar seus estudos ou que, por várias razões, estão presas ao cuidado e ao apoio familiar, ajudando em casa em vez de continuar com estudos técnicos ou universitários. Sem educação, o empoderamento é impossível.
Por que é importante destacar as contribuições das mulheres para o desenvolvimento global e como isso pode impactar as meninas?
No Mujeres Bacanas, nós nos apoiamos ao princípio de que “se você pode ver isso, você pode ser isso!” No Chile, por exemplo, as meninas nascidas no novo milênio sabem que talvez um dia elas podem se tornar presidentes, algo que era impensável para as gerações anteriores. Nós temos o desafio de tornar mais visíveis as contribuições das mulheres e a gama de possibilidades para o envolvimento delas na sociedade, para que nós possamos começar a tratar, por exemplo, da falta de mulheres na ciência, na tecnologia, na engenharia e na matemática (science, technology, engineering, and mathematics – STEM); ou na política, na academia e além. Uma sociedade com mais participação de mulheres em todas as áreas é uma sociedade mais justa. E as meninas são muito receptivas a esses modelos. Sabendo dessas histórias as permite sonhar e imaginar seus próprios futuros.
Como podemos tornar a educação de meninas uma prioridade para alcançar mais igualdade de gênero?
Como sociedade, precisamos assumir a responsabilidade de fornecer mais oportunidades para meninas vulneráveis e orientar as famílias sobre a importância do acesso igualitário à escola e ao trabalho. Além disso, precisamos construir a autoestima das meninas para que elas cresçam confiantes em seu valor e se vejam como uma parte necessária de seu lar, sua vizinhança e seu país – de qualquer área ou caminho que escolherem.
Quais mulheres da América Latina e do Caribe você admira, e como você acha que as histórias delas poderiam inspirar meninas e mulheres na região?
São tantas mulheres incríveis em nosso continente! Como amante de livros e jornalista, admiro a mexicana Elena Poniatowska, que deu voz aos que não a têm; e a argentina Leila Guerriero, por razões semelhantes. No mundo culinário, as chefs estão deixando sua marca na indústria de restaurantes, muito dominada por homens, trazendo sabor e criatividade e se tornando modelos, como Leonor Espinosa, da Colômbia, ou Carolina Bazán, do Chile. No esporte, a chilena Christiane Endler e a brasileira Marta Vieira da Silva mostraram que as mulheres brilham no futebol com tanto talento quanto os homens, quebrando ainda mais barreiras ao longo do caminho. Temos ativistas ambientais notáveis como a brasileira Marina Silva ou a equatoriana Nemonte Nenquimo, com suas lutas incansáveis para proteger a floresta amazônica. Sempre me surpreendo com as mulheres na ciência, desde a icônica María Teresa Ruiz, na astronomia chilena, à pioneira da conservação marinha dominicana, Idelisa Bonnelly; bem como a jovem peruana, Mariana Costa, que fez um trabalho tremendo treinando mulheres em programação. E a lista continua…