Artigo
Desenvolver o pensamento cr¨ªtico contra ¡°not¨ªcias falsas¡±
Depois de passar da navega??o, de bate-papos e conversas descompromissadas ¨¤ coleta de dados com a inten??o de manipular e desestabilizar, a transforma??o digital do cen¨¢rio midi¨¢tico ressalta a import?ncia cada vez maior da alfabetiza??o midi¨¢tica e informacional. Essa forma de educa??o deve repensar a m¨ªdia e as bases pol¨ªticas e ¨¦ticas que a legitimam.
Por Divina Frau-Meigs
A alfabetiza??o midi¨¢tica e informacional (AMI) ¨¦ um recurso frequentemente utilizado no momento atual, em que os meios de comunica??o sofrem amea?as de todos os lados, em regimes tanto totalit¨¢rios quanto democr¨¢ticos. O alerta foi dado na Fran?a, em 7 de janeiro de 2015, quando a revista sat¨ªrica Charlie Hebdo foi atacada. Foi um ataque a uma das formas mais antigas de m¨ªdia do mundo, a caricatura.
Na ¨¦poca, eu era diretora do Centre pour l¡¯?ducation aux M¨¦dias et ¨¤ l¡¯Information (CLEMI), o centro para a alfabetiza??o midi¨¢tica e informacional. N¨®s tivemos de preparar os alunos para voltar ¨¤ sala de aula no dia seguinte ao ataque, e atender ¨¤s necessidades dos professores e dos pais. Fizemos como sempre foi feito depois de grandes cat¨¢strofes ¨C procuramos em nossos arquivos por fatos e dados sobre caricatura e propaganda, e postamos recursos midi¨¢ticos online (sites de refer¨ºncia, uma resenha jornal¨ªstica, uma s¨¦rie de manchetes). Tamb¨¦m lan?amos uma entrevista in¨¦dita com Charb, que o CLEMI havia realizado em 2013, chamada de ¡°Podemos rir de tudo?¡± O cartunista e jornalista, cujo nome verdadeiro era St¨¦phane Charbonnier, foi morto no ataque.
Essa situa??o de crise demonstrou os pontos fortes da AMI, assim como suas limita??es. Est¨¢vamos bem preparados para reagir em termos de recursos, mas n?o antecipamos o impacto das m¨ªdias sociais.
Como na era anterior ¨¤s m¨ªdias digitais, a AMI tem de dar um salto ¨¤ frente e incluir entre suas preocupa??es o que os dados fazem com a m¨ªdia ¨C eles colocam as informa??es na linha de frente, por meio da regula??o de algoritmos vinculados ao hist¨®rico de busca das pessoas. Eles podem confinar as pessoas em ¡°bolhas de filtragem¡±, para refor?ar as tend¨ºncias de confirma??o que apoiam ideias pr¨¦-concebidas e reduzem a diversidade e o pluralismo de ideias ao monetizar o conte¨²do (cliques por visualiza??o). ? algo que viola a privacidade dos usu¨¢rios e amea?a as liberdades fundamentais, ao usar ¡°pegadas digitais¡± para finalidades que est?o fora do controle dos usu¨¢rios.
As ¨²ltimas crises geradas por not¨ªcias falsas ¨C uma mistura de boatos, propaganda ideol¨®gica e teorias da conspira??o ¨C abalaram a AMI. As not¨ªcias falsas s?o ainda mais poderosas do que a desinforma??o, que ¨¦ uma mistura t¨®xica, mas geralmente identific¨¢vel de verdades e mentiras. As not¨ªcias falsas s?o um fen?meno que se insere na categoria de desinforma??o, mas suas inten??es maliciosas n?o t¨ºm precedentes, pois a tecnologia da informa??o permite que elas sejam transfronteiri?as e transmidi¨¢ticas, e, por isso, virais.
A alfabetiza??o midi¨¢tica e informacional deve, necessariamente, levar em conta as transforma??es digitais, que passaram do ¡°continente azul¡± para o ¡°continente escuro¡±. Em outras palavras, ela passou da navega??o, dos bate-papos e dos coment¨¢rios em plataformas controladas pelos GAFAM (sigla que representa: Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft) para a coleta de dados perniciosa, com a inten??o de manipular e desestabilizar em massa.
? nesse sentido que a decodifica??o de propaganda ideol¨®gica online ¨¦ uma tarefa complexa, pois ¨¦ uma quest?o de decifrar uma forma de ideologia destrutiva, que, embora seja tecnologicamente inovadora, paradoxalmente, representa uma revolu??o global conservadora ¨C projetada para criar o caos em sistemas pol¨ªticos existentes, em vez de propor um sistema de pensamento politicamente progressista.
O retorno da fofoca
? por isso que a AMI tem a obriga??o de repensar os meios de comunica??o e os fundamentos pol¨ªticos e ¨¦ticos que os legitimam. O papel das m¨ªdias sociais deve ser revisto, assim como os interc?mbios que ocorrem nelas. O crescimento das m¨ªdias digitais, que transformam o p¨²blico antigo em novas comunidades de compartilhamento e interpreta??o, tamb¨¦m deve ser levado em conta. A tend¨ºncia renovada de se fazer fofoca manifestada pelas m¨ªdias sociais n?o ¨¦ insignificante e n?o deveria ser desprezada. Uma conversa com nuances que comunica uma mistura de boatos, rumores e meias-verdades, a fofoca torna p¨²blico o que ¨¦ privado. Ela coloca a autenticidade acima de uma verdade que ¨¦ percebida como fabricada pelas elites, distante das preocupa??es cotidianas e locais.
Portanto, as m¨ªdias sociais oferecem not¨ªcias nas quais a verdade ¨¦ incerta, e falsidades t¨ºm sido usadas para se chegar ¨¤ verdade ou para mostrar que a verdade n?o ¨¦ assim t?o definida. Da¨ª vem a tenta??o de falar das m¨ªdias sociais como ¡°p¨®s-verdade¡±. Por¨¦m, essa posi??o reduz seu alcance e se recusa a ver nelas a busca por uma verdade diferente, quando os sistemas de informa??o considerados de alto padr?o forem ¨¤ fal¨ºncia. As m¨ªdias sociais est?o concentradas, novamente, na eterna batalha jornal¨ªstica entre fatos objetivos e coment¨¢rios com base em opini?es que se desenrola nesses modelos de influ¨ºncia.
Nas ci¨ºncias da informa??o e da comunica??o, a fofoca se insere na categoria de v¨ªnculos sociais. Ela preenche algumas fun??es cognitivas essenciais: monitoramento do ambiente, aux¨ªlio ¨¤ tomada de decis?es por meio do compartilhamento de not¨ªcias, alinhamento a uma determinada situa??o de acordo com os valores do grupo etc. Essas fun??es tradicionalmente legitimaram a import?ncia dos meios de comunica??o. No entanto, a m¨ªdia, agora, ¨¦ vista como deficiente e tendenciosa ¨C um sintoma disso ¨¦ o fato de que as pessoas confiam nas fofocas online transmitidas pelas m¨ªdias sociais. A culpa recai menos nas m¨ªdias sociais do que naquelas pessoas que s?o respons¨¢veis pelo debate p¨²blico na vida real.
Nas situa??es pol¨ªticas de instabilidade que ocorrem em todo o mundo, as m¨ªdias sociais est?o restaurando o significado do papel regulat¨®rio da narrativa social. Elas ressaltam as viola??es ¨¤s normas sociais, especialmente quando institui??es pol¨ªticas se vangloriam de serem transparentes, porque segredos n?o est?o mais seguros. Em contraste a jornais que beiram o vi¨¦s partid¨¢rio, as m¨ªdias sociais est?o quebrando as normas da objetividade, que se fossilizaram ao exigir a obrigatoriedade de haver uma opini?o a favor e uma contra. O p¨²blico demonstra n?o confiar na ¡°veracidade¡± desse discurso polarizado e se deixa seduzir pela estrat¨¦gia da autenticidade. Ele estabelece uma ¨ªntima rela??o de confian?a com a comunidade de membros que agora constitui o p¨²blico e visa a envolv¨º-lo nos debates, ao mesmo tempo em que se baseia no princ¨ªpio da transpar¨ºncia. Assim, as m¨ªdias sociais colocam a ¨¦tica da autenticidade em oposi??o ¨¤ ¨¦tica da objetividade.
Explorador, analista e criador
As m¨ªdias sociais e suas not¨ªcias falsas, consequentemente, s?o como um livro did¨¢tico para a AMI, o que pede a aplica??o de uma de suas compet¨ºncias fundamentais ¨C o pensamento cr¨ªtico. Contudo, esse pensamento cr¨ªtico precisa compreender o valor agregado do digital: a participa??o, a contribui??o, a transpar¨ºncia e a responsabilidade, ¨¦ claro, mas tamb¨¦m a desinforma??o e o jogo de influ¨ºncias.
A mente cr¨ªtica pode ser exercitada e treinada, e tamb¨¦m pode agir como uma forma de resist¨ºncia ¨¤ propaganda ideol¨®gica e ¨¤s teorias da conspira??o. Pode-se exigir responsabilidade de pessoas jovens, ao mesmo tempo em que elas devem ser protegidas pelos adultos ao seu redor: elas podem ser levadas a questionar o seu uso das m¨ªdias sociais e a considerar as cr¨ªticas ¨¤s consequ¨ºncias de tal uso. Tamb¨¦m devemos confiar no senso de ¨¦tica dos jovens, uma vez que ele seja colocado em jogo. No meu curso online aberto e massivo (MOOC) sobre educa??o midi¨¢tica ¨C o MOOC DIY MIL (Alfabetiza??o Midi¨¢tica e Informacional: Fa?a Voc¨º Mesmo, em tradu??o livre), que ganhou a edi??o de 2016 do Pr¨ºmio da UNESCO ¨C, eu ofere?o tr¨ºs pap¨¦is cr¨ªticos aos alunos: explorador, analista e criador. O explorador aprende sobre as m¨ªdias e os dados; o analista aplica os conceitos, como verifica??o de fontes, checagem de fatos e respeito ¨¤ privacidade; e o criador tenta criar seu pr¨®prio conte¨²do, percebe as consequ¨ºncias de suas escolhas e toma decis?es quanto ¨¤ divulga??o.
O MOOC deu ¨¤ luz projetos como o (cidad?o jornalista no Twitter) e o (ca?ador de mentiras), contra teorias da conspira??o. Em todos os casos, o ponto principal consiste em garantir que os jovens adquiram os reflexos de pensamento cr¨ªtico da AMI, para que sejam capazes de evitar as armadilhas dos discursos de ¨®dio, dos vest¨ªgios involunt¨¢rios na internet e das not¨ªcias falsas. Existem outras iniciativas, incluindo algumas encabe?adas pela UNESCO, que fundou a Alian?a Mundial para as Associa??es sobre Alfabetiza??o Midi¨¢tica e Informacional (Global Alliance of Partners on MIL ¨C GAPMIL) ? o ¨¦ um projeto recente que tratou da AMI por meio de m¨ªdias sociais.
Expandir a AMI
Tamb¨¦m ¨¦ importante que a AMI exercite o pensamento cr¨ªtico contra as pr¨®prios meios de comunica??o. No fim das contas, as principais organiza??es midi¨¢ticas est?o entre os maiores influenciadores e aqueles que tendem a promover boatos, no Twitter, por exemplo, antes de estes serem confirmados. As not¨ªcias falsas que circulam no Facebook, a primeira rede social a dissemin¨¢-las, tiram seu gr?o de verdade do fato de que os profissionais de not¨ªcias frequentemente se dobram ¨¤ press?o de produzir furos de reportagem, transmitidos antes de serem verificados, como fazem os amadores. E as erratas n?o geram tanto furor quanto os boatos!
Est¨¢ claro que ainda existem desafios para a expans?o da AMI. ? preciso convencer os tomadores de decis?o de que os formadores devem ser formados, tanto professores quanto jornalistas. Minha pesquisa na Universit¨¦ Nouvelle Sorbonne, dentro do arcabou?o do Projeto da Agence Nationale de la Recherche e da C¨¢tedra UNESCO em ¡°Savoir-devenir em Desenvolvimento Digital Sustent¨¢vel¡±, consiste em comparar pol¨ªticas p¨²blicas na Europa. Ela mostra que muitos recursos e oportunidades de treinamento est?o dispon¨ªveis, oferecidos por organiza??es ou pela iniciativa pessoal de professores, em vez de serem patrocinados pelas universidades. No entanto, ela aponta para um atraso no n¨ªvel de pol¨ªticas p¨²blicas, apesar da inclus?o da AMI em muitos programas educacionais nacionais. Existem poucos mecanismos interministeriais, pouca ou nenhuma corregula??o e pouca ou nenhuma coordena??o entre as partes interessadas. A governan?a da AMI surge como uma combina??o, com tr¨ºs modelos existentes em pa¨ªses diferentes: desenvolvimento, delega??o ou... descompromisso (D. Frau-Meigs et al, 2017).
Um salto ¨¦tico
A boa not¨ªcia ¨¦ que os jornalistas est?o cada vez mais conscientes, reexaminando seus posicionamentos ¨¦ticos e percebendo o valor da AMI. Esse salto ¨¦tico pode ajudar os professores a reposicionar a AMI e a fornecer recursos v¨¢lidos para impulsionar a resist¨ºncia em prol da integridade dos dados e da m¨ªdia. A??es que reestabelecem o valor da investiga??o aprofundada j¨¢ est?o tomando forma ¨C usando o jornalismo de dados, que revela informa??es que n?o podem ser obtidas de outra forma.
Esc?ndalos como o vazamento colossal de documentos confidenciais conhecido como ajudaram a moralizar a vida pol¨ªtica e a restaurar a confian?a na imprensa. Outras a??es visam especificamente a combater not¨ªcias falsas usando meios digitais. Tais a??es incluem o blog da ag¨ºncia de not¨ªcias (que revela o que acontece nos bastidores de uma grande rede de not¨ªcias); , parte do jornal franc¨ºs, Le Monde (que faz uma lista de sites de acordo com sua falibilidade), o do Google (que verifica se uma imagem ¨¦ genu¨ªna com tr¨ºs cliques); e o no Spicee, a plataforma online de reportagens de TV e document¨¢rios (para desbancar teorias da conspira??o).
Para ser totalmente aproveitado e produzir cidad?os educados, o pensamento cr¨ªtico da AMI deve ser aplicado tamb¨¦m ¨¤ geoeconomia das m¨ªdias sociais. As plataformas digitais GAFAM, todas sob a legisla??o da Calif¨®rnia, h¨¢ muito tempo se recusam a ser classificadas como empresas de m¨ªdia, para evitar qualquer responsabilidade social e n?o se submeter ¨¤s obriga??es dos servi?os p¨²blicos. Por¨¦m, o monitoramento algor¨ªtmico revelou a capacidade que as GAFAM t¨ºm de exercer controle editorial sobre o conte¨²do que vale a pena monetizar. Ao fazer isso, essas organiza??es definem a verdade, porque esse controle ¨¦ real ou ¨¦tico.
At¨¦ o momento, as megam¨ªdias das GAFAM t¨ºm jogado com a autorregula??o: elas fazem as pr¨®prias normas, elas decidem remover sites ou contas suspeitas de disseminar not¨ªcias falsas, sem assumir quaisquer responsabilidades. Contudo, elas n?o v?o conseguir lutar por muito tempo contra a necessidade de um modelo respons¨¢vel ¨C que provavelmente ser¨¢ um h¨ªbrido de ¡°entidade autorregulat¨®ria¡± e ¡°entidade regulat¨®ria p¨²blica¡±, se quiserem manter a confiabilidade de suas comunidades online. As comunidades tamb¨¦m poderiam se organizar entre si, e at¨¦ mesmo contornar as m¨ªdias, para regulamentar as not¨ªcias junto com os jornalistas, como ¨¦ o caso do ¶Ù¨¦³¦´Ç»å±ð³æ. A op??o de elaborar em parceria um algoritmo que tenha a ¨¦tica jornal¨ªstica e as liberdades fundamentais embutidas em seu DNA ¨¦, sem d¨²vida, uma das alternativas futuras, de acordo com a l¨®gica digital!
By Divina Frau-Meigs
Media and Information Literacy (MIL) is often called to the rescue these days, as the media is threatened on all sides, in totalitarian and democratic regimes alike. The alert was sounded in France on 7 January 2015, when the French satirical magazine, Charlie Hebdo, was attacked. It was an attack on one of the oldest forms of media in the world ¨C caricature.
At the time, I was Director of the Centre pour l¡¯¨¦ducation aux m¨¦dias et ¨¤ l¡¯information (the centre for media and information literacy (CLEMI). We had to prepare students for their return to the classroom the day after the attack, and meet the needs of teachers and parents. We proceeded as we did after all major catastrophes ¨C we searched our archives for educational fact sheets on caricature and propaganda, and posted media resources online (reference websites, a press review, a series of headlines). We also released an unpublished interview of Charb, which CLEMI had done in 2013, titled, ¡°Can we laugh at everything?¡±. The cartoonist and journalist, whose real name was St¨¦phane Charbonnier, was murdered in the attack.
This crisis situation showed the strengths of MIL, but also its limitations. We were well-prepared to respond in terms of resources, but we did not anticipate the impact of social media.
Like pre-digital media, MIL must take a leap forward and include in its concerns what data does to the media ¨C it pushes information to the fore through the regulation of algorithms, linked to people¡¯s search histories. It can enclose people in a ¡°filter bubble¡± to reinforce the biases of confirmation that support preconceived ideas, and reduce the diversity and pluralism of ideas by monetizing content (clicks by views). It is invasive of privacy and threatens fundamental freedoms by using digital footprints for purposes beyond the user¡¯s control.
The latest crisis stemming from fake news ¨C a blend of rumour, propaganda and plot theory ¨C has shaken up MIL. Fake news is even stronger than disinformation, which is a toxic, but generally discernible mixture of truth and lies. Fake news is a phenomenon that falls into the category of disinformation, but its malicious intent is unprecedented, because information technology makes it trans-border and trans-media, and therefore viral.
Media and Information Literacy must imperatively take into account the digital transformation, which has moved from the ¡°blue continent¡± to the ¡°dark continent¡±. In other words, it has gone from surfing, babbling and chatting on platforms controlled by the GAFAM (an acronym for Google, Apple, Facebook, Amazon, Microsoft), to noxious data mining for the purpose of massive manipulation and destabilization.
It is in this respect that the decoding of online propaganda is complex, because it is a question of deciphering a form of disruptive ideology, which is technologically innovative, but paradoxically represents a conservative global revolution ? designed to create chaos in existing political systems rather than proposing a system of progressive political thought.
The return of gossip
This is why MIL is obliged to rethink the media and the political and ethical foundations that legitimize it. The role of social media needs to be revisited, as do the exchanges that take place on it. The growth of digital media, which transforms old audiences into new communities of sharing and interpretation, also needs to be taken into account. The renewed tendency to gossip manifested by social media is not insignificant and should not be treated with contempt. A conversation in undertones that conveys a jumble of rumours, half-truths and hearsay, gossip makes what is private, public. It places authenticity above a truth that is perceived as fabricated by elites, far from daily and local concerns.
Social media, then, conveys news where truth is uncertain, and falsehoods have been used to arrive at the truth or by showing that the truth is not all that clear-cut. Hence the temptation to categorize social media as ¡°post-truth¡±. But this stance reduces its scope and refuses to see in it the quest for a different truth, when the supposedly gold-standard systems of information go bankrupt. Social media centres once again on the eternal journalistic battle between objective facts and commentary based on opinion, that is played out in these models of influence.
In the information-communication sciences, gossip falls within the category of social bonding. It fulfills essential cognitive functions: monitoring the environment, providing help in decision-making by sharing news, aligning a given situation with the values of the group, etc. These functions have traditionally legitimized the importance of the media. But the media is now perceived as deficient and biased ¨C this is symptomized by the reliance on online gossip, relayed by social media. The blame falls less on social media than on those who are responsible for public debate in real life.
In destabilized political situations all around the world, social media is restoring meaning to the regulatory role of social narrative. It highlights the violations of social norms, especially when political institutions boast of transparency, because secrets are no longer safe. Set against newspapers that toe party lines, social media is disrupting the norms of objectivity, which has become fossilized by requiring the presentation of one opinion for and one against. The public shows distrust of the ¡°veracity¡± of this polarized discourse and is seduced by the strategy of authenticity. It establishes a close relationship of trust with the community of members that now constitutes the audience, and aims to involve them in debates, while basing itself on the principle of transparency. Thus social media pits the ethics of authenticity against the ethics of objectivity.
Explorer, analyst and creator
Social media and fake news consequently make up a textbook case for MIL, which calls upon its fundamental competence ? critical thinking. But this critical thinking must have an understanding of the added value of the digital: participation, contribution, transparency and accountability, of course, but also disinformation and the interplay of influence.
The critical mind can be exercised and trained, and can also act as a form of resistance to propaganda and plot theory. Young people must be put in a position of responsibility while being protected by the adults around them: they can be prompted to call into question their use of social media and to take into account the criticism against the consequences of their practices. We must also trust their sense of ethics, once it is called upon. In my Massive Open Online Course on Media Education ¨C the MOOC DIY MIL, which received the 2016 ¨C I offer students three critical roles: explorer, analyst and creator. The explorer gets to know the media and data; the analyst applies the concepts, such as source verification, fact-checking, respect for privacy; the creator tries his/her hand at producing his/her own content, sees the consequences of his/her choices and makes decisions about distribution.
The MOOC has given birth to projects such as ¡°¡± (citizen journalist on Twitter) and ¡°¡±, against plot theories. In all cases, the point is to ensure that young people acquire the critical thinking reflexes of MIL, so that they can avoid the traps of hate speech, non-voluntary internet traces and fake news. Other initiatives exist, including some led by UNESCO, which has founded the Global Alliance of Partners on MIL (GAPMIL) ? is a recent project to take ownership of MIL via social media.
Scaling up MIL
It is also important that MIL exercises critical thinking against the media itself. It turns out that the top press organizations are among the biggest influencers and the ones who tend to push rumours, on Twitter for example, before they are confirmed. The fake news that circulates on Facebook, the first of the social media to spread it, draws its grain of truth from the fact that news professionals are overly responsive to the pressure of the scoop, transmitted before it is checked, in the same manner as the amateurs. And the denials do not generate as much buzz as the rumours!
It is clear that challenges still exist to significantly scaling up MIL. Decision makers need convincing that trainers must be trained, teachers and journalists alike. My research at the Universit¨¦ Nouvelle Sorbonne, within the framework of the project of the Agence Nationale de la Recherche and the UNESCO Chair in ¡°Savoir-devenir in sustainable digital development¡±, consists of comparing public policies in Europe. It shows that many resources and training opportunities exist on the ground, provided by organizations or teachers on their own initiative, rather than sponsored by universities. It points, however, to a lag at the public policy level, despite the inclusion of MIL in many national educational programmes. There are few interministerial mechanisms, little or no co-regulation, and little or no multi-stakeholder coordination. The governance of MIL emerges as composite, with three models existing in different countries: development, delegation, or¡ disengagement (D. Frau-Meigs et al, 2017).
An ethical leap
The good news is that journalists are becoming increasingly aware, revising their ethics and realizing the value of MIL. Their ethical leap can help teachers to reposition MIL and provide valid resources to bolster resistance in favour of the integrity of data and media. Actions that are re-establishing the value of in-depth investigation are already taking shape ? using data journalism, which reveals information that cannot be obtained otherwise.
Scandals such as the colossal leak of confidential documents known as the have helped moralize political life and restore confidence in the press. Other actions are aimed specifically at fighting fake news using digital means. These include , the Agence France Presse blog (which reveals what happens backstage at a large news network); featured in the French newspaper, Le Monde (which lists sites according to their unreliability), Google's (which checks whether an image is genuine in three clicks), and on Spicee, the online TV reports and documentaries platform (to debunk plot theories).
In order to be deployed fully and to create an educated citizenship, MIL¡¯s critical thinking must also be applied to the geo-economy of social media. The GAFAM digital platforms, all under California law, have long refused to be classified as media companies, to avoid all social responsibility and to evade any related public-service obligations. But algorithmic monitoring has revealed the ability of GAFAM to exercise editorial control over content that is worth monetizing. In doing so, these organizations define the truth, because it is real or ethical.
The GAFAM mega-media have so far played the card of self-regulation: they make their own rules, they decide to remove sites or accounts suspected of conveying fake news, with no accountability for themselves. But they cannot resist the need for a responsible model for long ¨C it will probably be a hybrid between a ¡°common carrier¡± and ¡°public trustee¡±, if they want to preserve the trust of their online communities. The communities could also organize themselves, and even circumvent them, to co-regulate the news with journalists, as is the case with ¶Ù¨¦³¦´Ç»å±ð³æ. The option of co-designing an algorithm that would have journalistic ethics and fundamental freedoms built into its DNA is undoubtedly one of the alternatives to come, according to digital logic!
Divina Frau-Meigs
Divina Frau-Meigs (France) is a professor of information and communication sciences at the Universit¨¦ Sorbonne Nouvelle, and holder of the UNESCO Chair ¡°Savoir-devenir in sustainable digital development¡±. The author of several books, she has just published , which she has edited along with I. Velez and J. Flores Michel (London, Routledge, 2017).