Rotas dos Povos Escravizados
Desde o seu lançamento em 1994, o Programa Rotas dos Povos Escravizados: Resistência, Liberdade e Patrimônio da UNESCO tem contribuído para a produção de conhecimento, o desenvolvimento de redes científicas de alto nível e o apoio a iniciativas de memória sobre o tema da escravidão, sua abolição e a resistência que produziu.
No âmbito internacional, o Programa desempenha um papel importante ao “quebrar” o silêncio em torno da história da escravidão e colocar na memória universal esta tragédia que moldou o mundo moderno.
Objetivos
Atualmente, entre seus principais objetivos, o Programa contribui para “desracializar” a nossa visão e “descolonizar” o nosso imaginário ao:
- desconstruir os discursos fundamentados no conceito de raça que justificaram esses sistemas de exploração;
- promover as contribuições das pessoas de ascendência africana para o progresso geral da humanidade; e
- questionar as desigualdades sociais, culturais e econômicas herdadas desta tragédia.
Preliminary calendar of confirmed activities
for the 30th Anniversary in collaboration with Member States and external partners.
The calendar will be regularly updated.
Arquivos
Como parte de seu 30º aniversário, o Programa Rotas dos Povos Escravizados irá disponibilizar seus arquivos online ao longo do ano. Compostos por artigos científicos, notas conceituais de projetos e cartas, esses arquivos são um recurso inestimável para se compreender o desenvolvimento deste programa emblemático, reconhecido como um agente de mudança inovador por especialistas internacionais e pelas comunidades afetadas.
Comitê Científico Internacional
O Comitê Científico Internacional do Programa é formado por 20 membros indicados pelo diretor-geral da UNESCO.
Os membros do Comitê, que representam diferentes regiões, áreas de conhecimento e gênero, têm um mandato de quatro anos.
A principal função do Comitê é aconselhar a UNESCO sobre a implementação do Programa.
Rede da UNESCO de “Locais de ᾱó e Memória ligados à Escravidão e ao Comércio de Escravos”
As Comissões Nacionais para a UNESCO podem enviar, em nome de seus governos, o para que determinado “Local de ᾱó e Memória ligado à Escravidão e ao Comércio de Escravos” se torne parte de uma Rede especializada.
Se a admissão na Rede for aceita (por um período de cinco anos, renovável sob certas condições), os gestores do local poderão compartilhar boas práticas e desenvolver atividades comuns com outros gestores locais, ao mesmo tempo em que se beneficiam do apoio da UNESCO na forma de assistência técnica, defesa (advocacy) conjunta e 徱ܱçã.
Por intermédio desta rede internacional, a UNESCO visa preservar tais locais oferecendo às populações locais treinamentos sobre seus benefícios socioeconômicos e promovendo o diálogo intercultural, especialmente entre membros da diáspora africana.
Para obter mais informações, entre em contato com SHSREP@unesco.org.
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Curar as consequências psicológicas da escravidão
Nos últimos anos, pesquisas inovadoras nas áreas de psicologia, psicologia cognitiva e epigenética têm destacado que o estresse traumático é capaz de alterar o comportamento, a cognição e o funcionamento psicológico e, além disso, seus efeitos podem ser transmitidos para as gerações subsequentes. Nesse sentido, um evento traumático que não vivenciamos de forma direta ainda assim pode ter impactos psicológicos e sociais em nossas vidas. Comunidades carregam a história de eventos catastróficos e suas consequências em seu DNA, assim como sua representação da vida em geral e a forma como celebram a história.
Para o Programa Rotas dos Povos Escravizados da UNESCO, o desafio consiste em ampliar essa abordagem, reconhecer os impactos da dissonância cognitiva pós-colonial e desenvolver um “mapa de cura” para entender melhor como curar indivíduos e comunidades impactadas de forma intergeracional e, assim, enfrentar as estruturas de desigualdade socioeconômica fundamentadas em males históricos. Este trabalho sobre o antirracismo é articulado em torno de nossas iniciativas sobre os preconceitos de gênero e estereótipos enraizados em nossas culturas, leis e instituições que impedem o empoderamento de mulheres e meninas, especialmente aquelas de ascendência indígena e africana, assim como o exercício pleno de seus direitos humanos.
Escravidão, racismo e discriminação
Como podemos entender os principais desafios contemporâneos do combate ao racismo e a todas as formas de discriminação sem conhecer a história e os processos que moldaram e legitimaram tais práticas? A fim de combater de forma eficaz as desigualdades que afetam os descendentes de pessoas escravizadas e afrodescendentes em geral, o estudo da história da escravidão é fundamental, especialmente para o público jovem. Por meio da encenação de peças teatrais e da colaboração em livros e filmes, o Programa Rotas dos Povos Escravizados atua para promover e reconhecer a história dos negros com o objetivo de consolidar os valores de tolerância e respeito na mente dos jovens.
Década Internacional dos Afrodescendentes
Existem aproximadamente 200 milhões de pessoas de ascendência africana vivendo nas Américas e outros vários milhões no Oceano Índico, na Europa, nos Estados Árabes etc. Sejam como descendentes de vítimas do comércio transatlântico de escravos e da escravidão, ou como migrantes que enfrentam o racismo, essas pessoas estão muito mais expostas à exclusão social e às desigualdades, particularmente quanto ao acesso à educação, ao emprego, à saúde e à justiça. Essa questão preocupante está no centro da agenda das Nações Unidas.
Resistência cultural e criatividade contemporânea
As pessoas escravizadas sempre resistiram, seja por meio de armas ou do pensamento, ou seja, por meio da resistência cultural. Embora estivessem distantes de suas terras natais, os escravizados levaram consigo sua memória, seja musical, espiritual ou de qualquer outra natureza.
A forma mais conhecida dessa resistência cultural é sem dúvida o jazz, o herdeiro direto das canções chamadas de “espirituais negros” (negro spirituals), nas quais a pronúncia, o ritmo e certos instrumentos usados lembram os ritos africanos. Para alguns, o candomblé, a capoeira e até mesmo o tango são legados desses povos escravizados.
Essas formas de resistência se desenvolveram nos locais onde os escravizados viveram, como no sul do Marrocos, onde os Gnawas são o orgulho musical do país. A UNESCO trabalha para preservar e valorizar este patrimônio por meio de publicações, debates e outros encontros públicos, para que sua memória possa contribuir para o reconhecimento das contribuições culturais dos afrodescendentes.
Além disso, em consonância com o compromisso da UNESCO de apoiar artistas, o Programa Rotas dos Povos Escravizados busca desenvolver e acompanhar criações contemporâneas sobre temas relacionados à escravidão, ao comércio de escravos e a suas consequências atuais.
A história da escravidão nos diz que podemos superar. Que o mundo pode mudar para melhor. E que podemos fazer mais do que simplesmente sobreviver – podemos alçar voo!
Marcus Miller, porta-voz
Marcus Miller, renomado músico de jazz, compositor e produtor norte-americano, foi nomeado Artista da Paz da UNESCO e porta-voz do Programa Rotas dos Povos Escravizados, pela diretora-geral da UNESCO, em 4 de julho de 2013.
Ele promove a conscientização sobre um fenômeno que causou um profundo impacto no mundo moderno, das áreas de religião e cultura até o movimento de direitos humanos. Como Artista da Paz, Marcus Miller promove as lições aprendidas com a tragédia da escravidão e do comércio de escravos, e como elas podem ser utilizadas para abordar muitas das questões importantes da atualidade: a reconciliação nacional, o respeito pelo pluralismo cultural e a necessidade de se construir sociedades inclusivas e justas.
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Publications
Materiais pedagógicos sobre a influência dos afrodescendentes na América Central
O Escritório da UNESCO em São José (Costa Rica) desenvolveu a Coleção “Del olvido a la memoria” (Do esquecimento à memória, em tradução livre), disponível em espanhol, que consiste em materiais educativos sobre a influência dos afrodescendentes na América Central.
Produzida em colaboração com a Universidade da Costa Rica (UCR) e com o Museu Nacional do país, esta coleção inclui uma série de cinco volumes de materiais didáticos que fazem parte de uma iniciativa dos países centro-americanos para acabar com a ignorância sobre a influência das populações de ascendência africana na região.
Financiada pela UNESCO, esta série de publicações faz parte do Programa Rotas dos Povos Escravizados e segue suas novas orientações relativas à expansão geográfica para regiões com cobertura insuficiente sobre esse assunto e a introdução de novos temas.
Além da 徱ܱçã desses materiais, a UNESCO está trabalhando ativamente para incluí-los nos currículos dos países centro-americanos e, assim, organiza workshops para:
- validar o conteúdo de brochuras elaboradas pela Organização sobre a presença africana na América Central;
- fornecer aos professores sugestões e recomendações de trabalho com os estudantes, promovendo a aprendizagem sobre a herança africana em cada país; e
- obter recomendações para implementar o estudo da história, da presença e da contribuição dos africanos na América Central nos programas dos Ministérios da Educação, respectivamente.
Desde 2018, a série “” está disponível online. Trata-se de uma minissérie de documentários que pode ser usada como ferramenta educacional, produzida pela Cátedra de Estudos Africanos e Caribenhos e pela Vice-Reitoria de Ensino da UCR, com o apoio da UNESCO. Os quatro episódios fornecem um relato em primeira mão, por meio de testemunhos, da experiência de migrantes das ilhas caribenhas no processo de integração de seus descendentes na Costa Rica.