A bióloga Ariane Ferreira está entre 13 pesquisadores que venceram o prêmio da UNESCO, MAB Young Scientists Award, destinado a jovens cientistas que receberão bolsas para projetos realizados, principalmente, em reservas da biosfera em todo o mundo. Ariane integra um programa coordenado por diversas instituições que prevê a reprodução da ararinha-azul e a reintrodução da espécie na natureza.
A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), que virou estrela internacional no filme “Rio”, é considerada extinta na natureza desde o ano 2000, quando desapareceu o último animal selvagem, que era acompanhado por pesquisadores. O último registro histórico dessa ave é de Curaçá (BA). Para o programa de reprodução e reintrodução da ave na natureza, envolvendo o governo brasileiro e parceiros internacionais - como a Association for the Conservation of Threatend Parrots (ACTP) - foram criadas, em 2018, duas áreas de preservação nos municípios de Curaçá e Juazeiro: a Área de Proteção Ambiental (APA) da Ararinha-Azul e o Refúgio de Vida Silvestre (Revis) da Ararinha-Azul, além de um criadouro para investir na reprodução da espécie.
Ariane, que sempre quis ter um trabalho dedicado aos animais, descobriu o amor pelas aves durante um trabalho voluntário, na época de estudante em Santa Catarina, seu estado natal. Hoje, a bióloga vive em Curaçá, na região da Caatinga, na Bahia.
Eu sabia que queria trabalhar com animais, mas não sabia com qual. Quando me apresentaram um guia de aves e me ensinaram a aprender a diferenciar as espécies e entender as suas peculiaridades, fiquei tão encantada naquele (trabalho de) campo que eu pensei que queria trabalhar com isso.
Antes de integrar o projeto da ararinha-azul, Ariane conheceu o trabalho realizado na Bahia por meio de uma pesquisadora. Ela sonhava em fazer parte de uma iniciativa similar e queria “ajudar a salvar uma espécie, fazer uma coisa maior”, lembra. “Eu acredito que eu vim para cá por receber esse incentivo dessa pessoa, que sempre me inspirou e que falava muito sobre este projeto, mas também para trabalhar em uma instituição envolvida com conservação”.
Ariane coordena uma equipe de pessoas da comunidade de Curaçá, que foram selecionadas e contratadas para trabalhar como agente temporário ambiental e monitorar as ararinhas soltas. Ela atribui a admiração que tem atualmente pela ararinha-azul, em parte, ao relato de pessoais locais, que antes estavam acostumadas a ver as aves voando. “Quando eu comecei a trabalhar aqui, eu comecei a ouvir as histórias das pessoas que diziam que eram crianças e viam ararinhas voando, então eu acho que tenho um carinho pela espécie, vendo as aves, entendendo o comportamento delas na natureza, mas também por meio das pessoas da comunidade que falavam que viam as ararinhas e durante esses 20 anos não estavam tendo a oportunidade de vê-las”, explica. “E hoje estão podendo ver as ararinhas livres e voando na natureza”.
Já foram reintroduzidas na natureza 20 ararinhas-azuis. A soltura foi dividida em dois grupos: um grupo solto na estação seca e outro grupo na estação chuvosa. Junto com esses dois grupos de ararinhas também foram soltas 15 maracanãs, que é uma espécie de ave que compartilha o mesmo habitat que as ararinhas. A soltura das maracanãs serviu para que as ararinhas aprendam a viver na natureza, fugir de predadores, se alimentar dos frutos da Caatinga e sair do recinto de soltura.
Sobre o prêmio designado pelo Conselho Internacional de Coordenação do Programa Homem e Biosfera (MAB, na sigla em inglês), da UNESCO, Ariane diz que foi uma surpresa e reconhece a responsabilidade de representar o Brasil.
Estou feliz por estar representando o Brasil e a ararinha. Sei que vai ser um desafio, mas vamos poder mostrar para o mundo esse bioma único e que abriga espécies tão raras como a ararinha-azul.
A premiação contribuirá com o desenvolvimento de sua pesquisa, que é monitorar as aves após a soltura e descrever o seu comportamento e os desafios que elas enfrentam após a reintrodução.
Além de Ariane, o pesquisador Danilo Pereira Sato também recebeu o prêmio no Brasil. Ele estuda a (peri)urbano da cidade de São Paulo (Brasil) e a (Áustria) como regiões que são modelo de desenvolvimento sustentável.
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